Como contei no post anterior (olha aqui), dividimos nossa visita ao complexo de templos de Angkor Wat em dois dias usando carro com motorista e guia. Um lugar repleto de história nos deixou boquiaberta no primeiro dia. E agora, vamos entender os templos que visitamos no segundo dia.

Forma mais gratificante de começar o dia!
Esse dia começou muito cedo: exatamente às 4:30 da manhã nosso carro chegou no hotel para nos buscar. O objetivo? Ver o espetacular nascer do sol desde o templo mais famoso de todos, cujo nome é o mesmo de todo o complexo – Angkor Wat! Depois visitamos alguns dos templos mais famosos e cheios e que ficam muito próximos (por isso o nome de Pequeno Circuito). Resolvemos encerrar a visita às 14 horas e não almoçar por ali, e sim no hotel, curtindo nossa piscina e relaxando com aquele calorão todo.
Vamos aos templos que visitamos!
Angkor Wat (início do século XII)
Incrível! Magnífico! Emocionante! Sim, o nascer de sol neste templo é tudo isso e mais um pouco. Claro que a quantidade de turistas (e de câmeras) por ali estraga um pouco o momento. Mas, somos turistas também, afinal! Então, vamos curtir o momento!
Nós chegamos na escuridão total, por volta de 5 hrs da manhã. E mesmo nessa hora havia guardas olhando os tickets. Como tínhamos comprado na véspera, pulamos a fila da bilheteria. Nosso guia nos levou com uma lanterna até a margem do lago que fica de frente para o templo. E ali ficamos, vendo o nascer do sol ao longo da próxima hora.

Poucas pessoas por ali…
Acabado este momento, fomos visitar o templo em si. Para começar, a informação de que Angkor Wat é considerado, simplesmente, o maior complexo religioso do mundo! Hinduísta, ele homenageia o Monte Meru, casa dos deuses hindus. Por isso, há cinco torres rodeando a central (o Monte Meru ficava em uma região de cinco montanhas). É cercado por fossos d`água que representam o oceano. A engenharia empregada na construção deste templo, para que ele não afundasse em um terreno pantanoso como esse, é incrível.
Ao contrário da maioria dos templos da região, este é orientado para o oeste. A razão ninguém sabe ao certo, mas atribui-se ao fato dele ser dedicado a deusa Vishnu, protetora do universo e que é associada ao oeste na tradição. O templo foi construído também para servir de túmulo para o rei Suryavarman II.
Entramos no templo pela calçada principal. São três níveis dentro do templo. Logo que entramos, fomos vendo as imagens perfeitas das devatas (deusas protetoras dos templos), esculpidas nas paredes do templo e as apsaras (espíritos de belas mulheres que encantam os homens).
Uma das características mais marcantes de Angkor Wat são os desenhos em alto relevo que, além de demonstrar uma técnica perfeita de escultura, contam histórias do reino e da religião.
Duas construções que ficam nas laterais do templo funcionavam como as bibliotecas do templo, ou seja, onde ficavam guardados os livros sagrados da religião.
Também vimos os quatro fossos existentes e que, antigamente, eram inundados de água e serviam para fins religiosos. Depois de um tempo, estes locais foram usados para armazenar imagens de budas. Hoje encantam os turistas para as fotos!
A subida entre os recintos significavam a ascensão às montanhas dos deuses. No segundo andar já não era mais permitido o acesso do povo.
No andar mais alto, o acesso era apenas permitido ao rei e aos sacerdotes. Ali, já da para ver uma fila grande. É para podermos ter acesso ao Santuário Central, a maior das torres. Apenas um número limitado de pessoas pode subir, por escadas super íngremes. Lá de cima, além da vista maravilhosa do redor, ficam imagens budistas (o templo foi convertido para o budismo quando esta passou a ser a religião do país).
Angkor Wat realmente merece a fama que possui!
Angkor Thom (final do século XII e início do XIII)
Enquanto Angkor Wat era o grande centro espiritual, Angkor Thom era a capital do império, onde funcionava a cidade em si. Foi fundado pelo rei Jayavarman VII.
A cidade era fortificado por muralhas com 8 metros de altura e rodeada por um grande fosso. Para entrar existiam quatro portões seguindo os pontos cardeais e mais a entrada da Vitória. Bem no centro da cidade ficava o templo importante de Bayon.

Portão Sul
A entrada mais famosa e que fica mais perto de Angkor Wat é a do Sul. Antes do portão, estão 54 devas (deuses) de um lado da calçada e 54 asuras (demônios) do outro, sentados em uma grande cobra. Essas imagens representam um mito hindu no qual há uma colaboração entre os deuses e demônios para criarem o néctar da vida que torna a todos imortal.
Quem morava dentro da cidade era a elite e os funcionários do rei. Um chinês que visitou a cidade na época, descreveu a casa dos endinheirados como sendo grandes e espaçosas, com paredes esculpidas e imagens de Budas. Este complexo foi, simplesmente, a maior cidade que existiu na era pré industrial mundial!
Bayon (final do século XII e início do XIII)
O templo central de Angkor Thom é compacto e diferente de todos os outros. Isto porque ele era formado por 200 faces sorridentes esculpidas nas pedras, ao longo de 50 torres. Muitas estão em perfeito estado ainda hoje para nos instigar sobre o que tudo isso pode significar.

Bayon hoje

Bayon no passado
Há várias crenças acerca dos rostos. Alguns acreditam que representa o personagem da compaixão budista conhecido como Lokesvara. Outra hipótese é que as faces representam o rei Jayavarman VII, o rei mais famoso de Angkor e que mandou construir o templo. Mais uma ideia é que seriam a representação de Phrom, o nome que os khmer davam ao deus da criação hindu chamado de Brahma.
A torre central de Bayon abrigava uma enorme imagem de Buda. A partir daí o templo se desenvolve.
Outra característica do templo são os desenhos esculpidos nas paredes mais externas do templo. Ali são retratados momentos da vida cotidiana dos khmer e histórias da religião.
Este foi o último templo construído na região. Dizem que o rei acabou gastando mais do que podia, o que iniciou o declínio do império khmer.
Baphuon (metade do século XI)
Este templo, que vem passando por uma forte restauração, tem a forma piramidal e também representa o Monte Meru na terra (o lugar onde moram os deuses hindus). Serviu como um santuário hindu por anos e, depois, virou budista. No século XVI, foi colocado ali um enorme buda reclinado que acabou precipitando o colapso do templo.
Seu tamanho original era de 130 metros por 100 metros e uma torre que chegava a 50 metros de altura.

Baphuon hoje em dia

Baphuon antigamente
A subida é cansativa e vale mais pela vista do que pelo que encontramos lá do alto.

Lá no alto de Baphuon

A vista

A calçada de acesso
Phimeanakas (início do século XI)
Este templo fazia parte da sede real do monarca. Foi descrito por um chinês à época como um templo dourado porque no alto ficava um pequeno santuário todo em ouro. A lenda diz que neste local vivia uma serpente de nove cabeças que assumia a forma de mulher toda noite. O rei precisava encontrá-la diariamente antes de seguir para sua esposa e concubinas para preservar a linhagem real. Se ele faltasse uma noite, morreria sem deixar sucessores.
O templo tinha o formato de uma pirâmide de três andares e as escadas de acesso eram cercadas por estátuas de elefantes e leões.

Phimeanakas no passado
Terraços dos Elefantes (final do século XII e início do XIII)
Uma grande passarela ligava o norte de Angkor Thom até o centro de Bayon. Com 300 metros, era daqui que o rei assistia paradas militares e fazia algumas aparições públicas.
Hoje vemos o resquício de uma calçada aberta. Porém, o local tinha pavilhões fechados de madeira que se deterioraram com o tempo.
Os elefantes gravados ao longo da plataforma mostravam os mesmos expulsando tigres da floresta, agarrando vacas ou carregando homens.
Prasat Sour Prat (final do século e início do XI)
Doze torres ficavam perto dos terraços dos elefantes. Suas funções permanecem desconhecidas. A tradução do nome é de torres das dançarinas de corda. Por isso, presume-se que acrobatas faziam performances neste local durante os festivais e desfiles. Um chinês visitante da época disse que as torres serviam para resolver disputas: os dois conflitantes eram trancados na torre e o que emergisse era o que estava certo.
Ta Prohm (final do século XII)
Este templo já está fora de Angkor Thom e seguimos a ele de carro. Ele foi construído pelo rei Jayavarman VII homenageando sua mãe. Nos registros encontrados nas pedras sabe-se que viviam por ali mais de 12.500 pessoas, incluindo 18 sacerdotes, 2.740 oficiais, 2.232 assistentes e 615 dançarinos. Outros dados curiosos são o registro dos pertences que havia ali: pratos de ouro pesando 5 toneladas, 35 diamantes, 40.620 pérolas, 4.450 pedras preciosas, 967 véus chineses e 512 lençois de seda.
Mais a grande fama deste templo advém do seu estado atual. Depois de abandonado, ele passou a ser dominado pela natureza. Os passarinhos levando sementes pelos ares, propiciaram o nascimento de árvores cercando o templo. Durante a restauração, decidiu-se por deixar a natureza misturada ao templo, o que o torna super diferente e interessante. Inclusive, o filme Tomb Raider foi filmado por aqui.
Visitamos estes lugares entre 05:30 da manhã e 14 horas. Sucumbimos ao cansaço e ao calor e nos demos por satisfeitos por tantos templos maravilhosos e tanta história que conhecemos em dois dias. Angkor Wat é incrível e único no mundo!